Floresta - PE -
A comitiva presidencial visita hoje e amanhã trechos do canteiro de obras da transposição do Rio São Francisco, em Pernambuco, considerado um dos projetos mais ambiciosos da história do País. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva verá pontos de captação de água no lago de Itaparica, em Floresta (PE), que está sendo feito pelo Exército. Ele também percorrerá por terra e pelo ar algumas áreas onde já é possível visualizar o caminho que será percorrido pelas águas que abastecerão 12 milhões de brasileiros que vivem nas regiões mais castigadas pela seca.
Lula e ministros estiveram ontem em Buritizeiros (MG) e Xique-Xique (BA) para acompanhar obras de dragagem e controle da erosão do "Velho Chico", que fazem parte do projeto de revitalização proposto pelo governo.
"Nós achamos que é importante levar água e essa água ela vai perenizar alguns rios existentes e, ao mesmo tempo, vai manter os açudes num nível com água, para que a gente possa fomentar a pequena agricultura e a irrigação em muitos Estados da federação", disse Lula durante as visitas.
Idealizada desde os tempos de Dom Pedro II, a obra também é cercada de polêmica principalmente pelos impactos que poderá provocar no regime de chuvas, na fauna e flora da região, além de uma possível perda no volume do rio.
Orçada inicialmente em R$ 6 bilhões com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a transposição tem duas frentes de trabalho. O eixo norte começa com o ponto de captação em Cabrobó (PE) e acaba em o sertão do Ceará, percorrendo um total de 21 municípios. Este sistema é alimentado por seis estações de bombeamento distribuídas nos 426 quilômetros de extensão. Já o eixo leste, que deve ser entregue até dezembro do ano que vem, apresenta três estações de bombeamento espalhadas ao longo de 287 quilômetros entre Floresta (PE) e Monteiro (PB). O piso arenoso dos leitos leito que darão vazão à água do São Chico estão sendo impermeabilizados e receberão placas de concreto em sua base.
Faltando 12 meses para as eleições, a obra já transforma a paisagem da caatinga e do semi-árido nordestino. Caminhões, escavadeiras e perfuradores de rochas agora fazem parte do cenário junto com mais de 8,4 mil trabalhadores, entre operários, técnicos, engenheiros, além dos responsáveis pela logística médica e nutricional. "A maioria dos operários é da Paraíba, mas veio gente de Goiás, Minas Gerais, Paraná e até do Mato Grosso", revela o motorista de caminhão Emídio Alves, 50, de João Pessoa.
A Paraíba, aliás, é o Estado onde a falta de água é mais severa. "O Estado está praticamente estagnado", revela o também paraibano Frederico Fernandes, engenheiro do Ministério da Integração Nacional responsável pelos eixos norte e leste da transposição. Fernandes revela ainda que estão sendo adotados todos os procedimentos recomendados pelo Ibama para a redução do impactos no ecossistema da região. "Toda a obra segue rigorosamente o que determinam os estudos de impacto ambiental", informa.
Cerca de 20 programas de compensação sócio-ambiental fazem parte do projeto de revitalização e transposição do rio. Um dos mais importantes trata do deslocamento das famílias que moram nas áreas atingidas. Para a construção dos novos ramos do São Francisco estão sendo desapropriados moradores que vivem em área até 200 metros das margens dos dois leitos. Cerca de 780 famílias estão sendo transferidas para vilas rurais compostas por escolas e postos de saúde que estão sendo construídas em locais próximos dos centros de captação.
As famílias, que em sua maioria vivem do plantio de cebola, milho e feijão e da criação de cabras, receberão casas e um lote de meio hectare para continuar produzindo. Também faz parte dos projetos de compensação o pagamento pelo governo federal de uma bolsa mensal no valor de R$ 1,2 mil por família até que a produção se normalize.
Esperança é uma palavra que de uns tempos pra cá começou a fazer parte do vocabulário de Maria do Socorro dos Santos, 62. Ela acredita que a estrutura que as vilas rurais vão oferecer vai fazer muitas pessoas desistirem de abandonar o sertão. "Tem que melhorar e acredito que vai", deseja. Desconfiada, a filha, Maria Lindinauva dos Santos, 38, mãe de cinco filhos, já não tem tanta fé no futuro. "Até agora ninguém me garantiu que a gente vai ter água pra beber ou pra plantar. Mas tomara que dê certo", torce.